segunda-feira, 11 de março de 2013

A caneta só quer empilhar letras que enchem as linhas de palavras, fazendo com que tudo vire páginas e montes de papeis que sempre culminam num texto motivado pelo pensamento “o que será que ele acharia?”

Até consigo te imaginar, estúpido e grosso, falando ‘mas que porcaria’ e soltando um riso em seguida, denunciando que gostou. Então mudo de folha, recomeço, arranco-a e a coloco pra repousar junto das outras pilhas de papeis moradores da minha gaveta.

Imaginar tudo isso não mata ninguém. Mas corrói cada mínimo pedaço. Por dentro, por cima, por fora, por todos os lados, até se transformar nesse vício diário que não me larga e que em toda madrugada insiste em me transportar pra esse passado que não existe mais e que hoje, tenho certeza, nunca será futuro – mesmo que um dia você tenha me dito, você não lembra, mas disse que esperava “que a gente algum dia se encontrasse novamente. Em amor.”

Acho tudo isso um grande desperdício. E sei que o lado podre da história foi apontado daqui. Do fim do comprimento do meu braço. Tenho dó de mim e de você. Sempre nos jogando ácidos por aí. E penso se toda essa mutilação interna consegue mesmo fazer com que a gente consiga ao menos fingir que se esqueceu.

Não há esperança pra essa história que já teve um ponto final e que insisto em querer triplicar o pontinho na tentativa de trazer etecéteras. Sem sucesso. Não há contato. Não há números datados pra um encontro, não há faixa esperando na chegada, porque não há chegada. Não existe um caminho e seguir, só essa cratera profunda e um muro gigante onde a gente permanece encurralado. Cada um de um lado. 

Em parcelas, vamos sofrendo. Cada milímetro disso que chamam coração vai sendo devorado e descartado numa lixeira com coisas que ninguém recicla. E as feridas vão ficando expostas como estandartes. Você vê as minhas e as suas gritam quando a gente consegue se cruzar por aí. E vão formando feridas cada vez maiores, que é pra sempre que a gente olhar, lembrar porque dói e ter que remoer tudo aquilo novamente.

E me abraço a estas coisas – mesmo tristes – porque só nelas é que consigo ter você em mim, já que não posso ter você em nenhum outro lugar, a não ser aqui; nas dores, na confusão que é minha vida e minha cabeça encharcada por esse lago escuro que decerto você sente o desgosto que foi mergulhar, se afogar e até hoje sentir esse gosto amargo dos dias que passou por aqui.

E a literatura me faz te construir, te consumir, te deixar permanecer através destas metáforas e frases amontoadas. 

Há uns dias venho pensando no quando a gente admira o que está distante. Não dá pra pensar em dias seguidos ao lado de Hilda Hilst, Alice Ruiz ou Rubem Fonseca. Ao menos não os beijando e sentindo todas as sensações possíveis em tudo que dá pra ver e tocar.

Não se espera chamadas de literatos; não espera-se que eles venham bater a sua porta. Alguns deles até já morreram. E a gente continua com a admiração.
São tantas listas vazias, compostas por poucos, dando replay nos mesmos desejos. São tantas poesias reinventadas com letras diferentes; de outros, mas que dizem as mesmas coisas, no fundo.

Pimenta. Pimenta braba nos olhos do coração. Começando pelas pálpebras. Espero que dê resultado imediato e comece logo a agir e que me obrigue e fechar esses olhos arteriais. Sangue e ferida já tem por toda parte.

Quando é só uma atração física é muito mais fácil se desprender. Mas literatura, não. Literatura machuca. Te deixa mal. Cutuca lá no ínfimo. Ilumina trechos específicos que te remonta momentos e faz você reviver tudo, como poesia simbolista-real.

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