sábado, 30 de março de 2013
"Não é no todo que a decisão é minha. Nem tudo está assim porque eu quis. Esteja ciente de que tudo influencia de algum modo. Tudo. Até o vento. O mesmo vento que embaraça os meus cabelos e adentra a boca levando aquele frio glacial que faz com que as borboletas despertem e alcem incontáveis voos descompassados todas as vezes que a gente se encontra. Interessante, entre a gente o não dito sempre se sobressai. Há tanto a se conversar. Sempre achei nossos kairos tão desajustados. E são. Sabe, nunca te falei, mas outro dia me peguei rindo sozinha, lembrando do dia que inventei de lixar as tuas unhas, na UFPB, e de toda a tua frescura sem querer deixar. Dizendo que doía, que dava agonia e blablabla. Estávamos em outro estado, em outra época, eu tinha outra cabeça bem diferente da que tenho agora, mas guardo comigo cada momentinho tolo vivido. Também já me ocorreu de pegar o livro de crônicas do Gullar e me perder numa história que eu mesma já começo a fantasiar só de olhar praquelas páginas. Só de pensar que esse livro era pra ser teu e de toda a história que a moça do alfarrábio lá do centro me contou, já me bate o tal frio que descrevi no começo do texto. Engraçado, mas no fundo acho que foi melhor você ter ficado com o do Dalton Trevisan, porque assim, meio às avessas, eu executaria teu plano inicial de fingir interesse pelo meu Feliz Ano Velho desconhecendo (ou ignorando) a existência de Marcelo Rubens Paiva. Mais engraçado ainda é, agora, lembrar do quanto as tuas mãos eram (continuam?) fofinhas e apertáveis, e o quanto era divertido passar as mãos nos teus cabelos. Aí já começo a lembrar de um mês chuvoso, entre fogos e fogueiras. Foi tão pouco tempo. Foi tanta coisa. Tanta música, tanto texto, tanto livro, tanto verso, tanto riso."


*Um trecho do que encontrei perdido pela gaveta.

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