Em dias
chuvosos fico refletindo sobre as coisas que passaram, digo, coisas que
aconteceram; porque ainda permanecem. Me pego
imaginando como pôde tudo rumar para um distanciamento tão grande. Almas que
antes se reconheciam, hoje mal se olham. Se cruzam através do caminho em comum
e os estranhos ao redor os julgam estranhos também. Olham, mas não veem. Os que
sabem, não percebem. Está tudo bem dentro, disfarçado, escondido; mascarado.
Outro dia fui
à biblioteca passear pelos corredores na tentativa de te buscar mais uma vez
através da subjetividade que aquele ambiente me traz, quando o papel alaranjado
no fundo de um livro qualquer sobre literatura, trouxe teu cheiro e um
pedacinho de você exposto no papel através daquela tinta azul. Meu coração
estremeceu; acelerou. Minhas mãos suaram e meu corpo se transformou num único
arrepio. Longo e contínuo. E embora não goste de filmes e não conheça muitos,
vi roteiros prontos de nossa história rodar em minha cabeça. Consegui até sentir
teu cheiro.
Respirei fundo
e estendi minha visão em volta de todo o lugar, achando que tua letra ali, tuas
mãos que tinham tocado naquele livro há menos de duas semanas, podiam estar por
ali, devolvendo um livro, fazendo um trabalho ou procurando pela subjetividade que
me acomete todas as vezes que vou atrás de algo que me lembra você.
E me dar
contar de que, pra você, tudo que nos ligava se dissolveu feito açúcar dentro
de uma xícara de café escaldante. E sentir uma tristeza, um vazio, uma
angústia, um nó na garganta, uma vontade de chorar por saber que a
desimportância e importância em excesso fez com que tudo se esvaísse sem deixar
rastros do que fomos ou quisemos ser. E me pego lendo livros velhos de
literaturas novas, livros novos de literaturas velhas, de autores que sei que
em algum lugar da cidade, em algum cantinho de seu quarto, numa sala de aula
qualquer ou mesmo no computador ou no ônibus, você está fazendo isso também.
E a chuva
continua lá fora, me dando tapas de reflexões, assim como você também continua
lá fora, mesmo estando tão dentro.
0 comentários:
Postar um comentário