O embrião deste texto
foi germinado na Coletiva com Djavan, no dia 04/12/2013. As palavras começaram
a destoar do objetivo inicial quando vi de perto o olhar esperançoso do garoto
Alvinho, tão altivo e corajoso, do alto de seus poucos anos de idade, agindo
como gente grande, fazendo questionamentos importantes ao cantor, ídolo e
conterrâneo, e seguiu tomando forma nas mãos calejadas de um catador de latas
que colhia sorrisos e vontade de viver, mesmo com a cidade lhe negando isto a todo
o tempo.
Cá
pra nós, estou bem cansada desse negócio de só receber notícia ruim. De só ler
notícia triste. De abrir os sites de notícias do meu estado e só ler manchetes que
em nada condizem com a candura e paz que a água tranquila e calma da Praia da
Avenida, às 7 horas da manhã, me passa, a caminho da redação.
É
fato que não dá para noticiar o beijo carinhoso que a avó deu em seu neto ou o
primeiro voo rasante do beija-flor que acaba de deixar seu ninho. Também não dá
pra ocupar páginas de jornais ou editorias de sites com as bonitas histórias
que compõe as quatro paredes que nos protegem dos monstros que habitam os
becos, ruas e avenidas.
As notícias ruins são inúmeras. Quantos
amigos, parentes e desconhecidos já compartilharam o pensamento de “Olha, só
falam em Maceió quando é coisa ruim”. Amigos, estou saturada disso. Não quero
mais tanto descaso, não aceito. Maceió e seus quase dois sofridos séculos não
merecem tanta cicatriz remexida, tanto dedo na ferida.
A avó que beijou o pequeno ao entardecer e que
não sai de casa quando anoitece com medo do assaltante, pede ajuda. O
adolescente que não tem onde dormir, também. O rapaz que sobe nos coletivos
para vender jujubas ou amendoins e que já sobe se desculpando por ‘interromper nossa
nem tão boa viagem’, quer ser lembrado e quer esquecer o sofrimento também.
E entre tantas ruas doentes, com almas
enfraquecidas, olhares que pesam e só enxergam um asfalto quente que não dá
frutos, vem um reflexo do espelho que só quer iluminar o futuro, mesmo sabendo
que o passado foi necessário pra lhe dar proteção e o circundar com bases
sólidas.
Há
muitos anos Djavan deixou Maceió a caminho da Cidade Maravilhosa, em busca de
“viver do que cantar”. Entre idas e vindas, o cantor retorna com sua Rua dos
Amores, presenteando a cidade que sangra com uma noite para, não digo esquecer
as dores, mas para ressaltar os amores e fazer cada melodia ecoar pelas ruas do
Jaraguá afora, chegando aos lugares mais inóspitos, subindo as ladeiras,
envolvendo a lagoa, passando pela Capela do Farol, Matriz de Santa Rita, onde
Djavan foi, não somente batizado, mas abençoado.
Djavan,
que sua música leve vida ao garoto que dorme na calçada, que deixe um pouco que
seja de esperança ao catador de latas que estará no Estacionamento do Jaraguá e
que eu pude enxergar verdade em suas palavras quando ele comentou comigo, meio
tímido, que estava ansioso para te ouvir; que acalente o coração daquela mãe
que estará logo ali enfrente, na Vila dos Pescadores, sem ter o que oferecer aos
filhos que sentem fome.
É
tão pouco, o que essas ruas doentes necessitam. Basta um olhar mais humano e a
vontade de não ser egoísta, para enxergar. Pois como canta Djavan em Pode Esquecer: “em algum lugar onde se
pode esperar pelo melhor, onde cada ser se viu crescer cheio de planos pra
servir” é o que eu desejo para cada olhar triste que vaga por essas ruas
sangrentas e que, ao menos nessa noite em que Maceió completa 198 anos, Djavan
as transforme em Rua dos Amores.
Djavan deu início à coletiva respondendo a pergunta: “Essa Rua dos Amores é algum reencontro do
seu amor com a cidade?”. Ao que ele respondeu: “É importante que num espetáculo, as pessoas participem, se satisfaçam e
fiquem felizes, porque é pra isso que elas saem de casa. E nós estamos no palco,
a banda e eu, com esse objetivo: ficarmos felizes também.”
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