segunda-feira, 8 de abril de 2013


A expressão "amou demais" parece que espanta. Há quem pergunte: "Pode-se amar de menos?". Eu própria convenho que não. Ninguém ama de menos. Sempre se "ama demais". Isto, dito assim, pode parecer meio vago, meio nebuloso. Digo "ama demais" atendendo a que todo o amor, seja ele qual for, excede, de muito, todos os limites, todas as medidas. De fato, não há uma medida para o amor. Não se sabe onde ele começa e onde acaba. Qualquer outro sentimento pode ser medido, inclusive o próprio ódio. Não o amor. Imaginemos uma amorosa. Se ela tem consciência de um limite, qualquer que seja ele, do seu amor, é porque não ama. Na vida sentimental da criatura, existem umas poucas verdades eternas. Umas dessas verdades é a seguinte: "Pouco amor não é amor". Sim, não há possibilidade de meio-termo. Ou muito ou nada.

Myrna, de Nelson Rodrigues, na introdução do romance A mulher que amou demais. 

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